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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

4º Espaço Falantil 2010

No dia 11 de agosto realizamos o 4º Espaço Falantil de 2010. Desta vez convidamos, além dos CPPs das EMEIs, os monitores, que contribuíram bastante para o nosso encontro, cujo tema abordado fou "Rotina na Educação Infatil".

Iniciamos o encontro com um delicioso café da manhã. Em seguida convidamos todos a realizarem um circulo, vendamos os olhos e iniciamos a dinâmica dos sentidos, onde atra
vés do tato, paladar, olfato e audição, os participantes teriam que identificar os objetos que lhes eram entregues. Ao final cada um relatou como se sentiu nessa situação e como é difícil confiar “naquilo” que não se conhece. Muitas vezes nossas crianças se sentem assim na instituição que não tem uma rotina organizada.


Iniciamos a apresentação de slides, exemplificando e sempre ouvindo dúvidas, sugestões e experiências. Durante nossas discussões dialogamos sobre a importância de se construir uma rotina na Educação Infantil de modo reflexivo e democrático, envolvendo a participação de todos os participantes dessa rotina, sobretudo as crianças.

Os participantes foram divididos em grupos para discutir o tema do encontro e montar uma rotina através de recorte e colagem. Todos tiveram a oportunidade de se expressar e avaliar a rotina nas suas instituições, bem como trocar ideias e experiências. O encontro se constituiu como um momento de troca e aprendizagem entre todos os envolvidos. Terminamos a manhã cantando a música Cotidiano, de Chico Buarque.



Segue o texto de estudo da autora Bernadete Mourão:


No Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI, encontramos as seguintes definições para o termo rotina:

1. Caminho já percorrido e conhecido, em geral trilhado maquinalmente.
2. Seqüência de atos ou procedimentos que se observa pela força do hábito.

É fácil notar que, em ambas, a idéia de repetição está presente e, ocorre que, estamos acostumados a pensar em situações repetitivas como monótonas, enfadonhas, cansativas, entediantes e por aí, vai. De fato, as coisas muito repetitivas têm mesmo esse lado negativo. Mas o que ocorreria se tudo, o tempo todo, incessantemente, variasse ao nosso redor? Por exemplo, como nos sentiríamos se a cada mês tivéssemos que obrigatoriamente mudar de cidade? Teríamos que lidar com uma imensidão de trajetos a conhecer, muitos nomes de ruas para decorar, novas pessoas para aprender a se relacionar etc. Enfim, muitos elementos desconhecidos a obrigatoriamente conhecer para, no fim do mês, ter de refazer do zero toda uma nova onda de aprendizagens. Ou seja: também extremamente cansativo! Ocorreu uma época de minha vida em que transitava freqüentemente entre três cidades e era comum, ao acordar no meio da noite, eu me perguntar: onde estou? O interruptor de luz é à esquerda, à direita, à frente ou atrás? Onde fica a porta do quarto? O banheiro fica à frente ou ao lado? O que acontecia era que a noção de espaço (isto é, aquele “filmezinho” que passamos para nós mesmos quando pensamos sobre a localização dos objetos), que internalizamos com a ajuda do correr do tempo e da repetição (isto é, pelo hábito) e que tanto facilita nossas idas e vindas de um lugar para o outro (como quando falta luz nas noites de tempestades de verão e sabemos exatamente onde encontrar as velas de nossas casas mesmo estando em um completo breu), por instantes, parecia estar reduzida a migalhas. Embora fugaz, não se pode dizer que possa ter sido prazeroso tal sentimento porque lembrava, ao longe, a idéia de estar perdida e uma inquietação por não saber onde ficam as coisas, não desenvolvidas pela extrema brevidade de duração da experiência. Mas se o tempo vivido se prolongasse mais, poderíamos começar a falar em ansiedade. Neste ponto, novamente, talvez seja útil recorrer ao dicionário: ansiedade quer dizer ânsia (aflição, perturbação de espírito causada pela incerteza ou pelo receio) ou sensação de receio e de apreensão, sem causa evidente, e a que se agregam fenômenos somáticos como taquicardia, sudorese, etc. A partir do exposto, o que está se tentando ponderar aqui é que a rotina traz certas vantagens à nossa vida, que nem sempre são percebidas,

nem tampouco valorizadas como a de nos deixar mais livres para nos ocupar e nos aprofundar acerca dos múltiplos aspectos que permeiam nossa vida prática que, em última análise, nem mesmo poderiam ser constituídos se tivessem que ser reinventados continuamente. A formação de rotinas colabora, além disso, no sentido de evitar, de algum modo, incertezas que podem acarretar em ansiedades, como por exemplo, quando nos sentimos aflitos diante de uma imensidão de fatos novos a conhecer ou com a sensação de não saber como localizar as coisas e, portanto, acessá-las porque elas estão sempre mudando.
Até agora nos detivemos no exercício de pensar a rotina na vida adulta. Relativamente ao mundo da criança pequena, poderíamos dizer que ele se caracteriza por uma constância de fascinantes e infinitas novidades. Cada pessoa, cada lugar, cada objeto e o próprio corpo são verdadeiros caleidoscópios. São universos que a criança, em sua aventura rumo ao conhecimento de si e do mundo, explora e que se apresentam a ela de forma continuamente mutante e num ritmo veloz. Isto ocorre porque, durante esta aventura, a interação da criança com seu mundo, vai acarretando em desenvolvimento social, cognitivo e afetivo, o que faz com que, a cada dia, surja uma criança renovada e o descortinar de um novo mundo para ela. É por causa desse estado camaleônico de fatos e coisas que o papel da rotina torna-se importante. É a rotina que, ao conferir um certo nível de estabilidade a estas constantes mutações vividas e sentidas, possibilita que a criança organize minimamente o mundo que ela experimenta em um arranjo de diferentes espaços (a creche, a casa, etc) e tempos (a hora de ir para a creche, a hora de voltar para casa, etc) relacionados entre si. A rotina permite, por isso mesmo, que a criança pequena consiga apreender o mundo melhor e, conseqüentemente, passe a se orientar e se situar nele. Mais ainda, a rotina, ao permitir que a criança reconheça fatos e situações, proporciona a ela um sentimento de controle e de previsibilidade sobre seu mundo de ilimitadas surpresas. Esse sentimento de controle relaciona-se com uma diminuição de ansiedades associadas às excitações que podem, naturalmente, decorrer das já referidas inúmeras variações do mundo experienciadas pela criança.

Referências bibliográficas
FERREIRA, A.B. H. Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira,

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