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terça-feira, 4 de maio de 2010

O Brincar na Educação Infantil

Se formos comparar uma característica comum entre as crianças de todo o mundo, sem dúvida essa característica seria o brincar. A experiência do brincar cruza diferentes tempos e espaços, sendo marcada ao mesmo tempo pela continuidade e pela mudança.

Ao pensarmos em nossas brincadeiras de infância, podemos refletir e fazer uma ponte com a realidade infantil de hoje: De que as crianças brincam hoje? Como e com quem brincam? De que forma o mundo contemporâneo reflete nas brincadeiras? Qual é o significado do brincar na vida e na constituição das subjetividades e identidades das crianças. Por que à medida que avançam os segmentos escolares se reduzem os espaços e tempos do brincar e as crianças vão deixando de serem crianças para serem adultos? Que relações têm o brincar com o desenvolvimento, a aprendizagem, a cultura e os conhecimentos? Como incorporar a brincadeira no espaço educativo, considerando-se todas as dimensões que a constituem?

Em nossa cultura, a brincadeira é frequentemente avaliada como perda de tempo, pois em nossa visão o brincar é uma atividade oposta ao trabalho, este sim valorizado e considerado coisa séria. Mas a brincadeira também é coisa séria, e está para a criança assim como o trabalho está para o adulto.

Segundo Vygotsky (1987), o brincar é uma atividade humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão e de ação pelas crianças, assim como de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças e adultos. Desta forma, o autor ultrapassa a visão da brincadeira como atividade restrita à assimilação de códigos e papeis sociais e culturais, cuja função seria inserir a criança no mundo social. Muito além disso, a brincadeira constitui a atividade através do qual a criança ressignifica a cultura. Se por um lado, a criança de fato reproduz e representa o mundo por meio das situações criadas nas brincadeiras, por outro lado tal reprodução não se faz passivamente, mas mediante um processo de reinterpretação do mundo, que abre lugar para a invenção e a produção de novos significados, saberes e práticas.

Sob esta perspectiva, podemos perceber que quando as crianças pequenas brincam de ser “outros” (pai, mãe, médico, monstro, bruxa, ladrão, bêbado, polícia, etc), refletem sobre suas relações com esses outros e tomam consciência de si e do mundo, estabelecendo outras lógicas e fronteiras de significação da vida. O brincar envolve, portanto, complexos processos de articulação entre o já dado e o novo, entre a experiência, a memória e a imaginação, entre a realidade e a fantasia. Segundo Leontiev (1988), o motivo para a criança não é reproduzir uma pessoa concreta, mas executar a própria ação como uma relação com o objeto, ou seja, precisamente uma ação generalizada. Neste sentido, a imaginação se apresenta não exatamente como a capacidade de a criança fabular, mas de extrair das situações cotidianas e das interações concretas seus elementos prototípicos que lhe permitam significar a cultura.

Vários aspectos de aprendizagem podem ser apontados na atividade do brincar. Na brincadeira de imitação, por exemplo, enquanto se imita uma bruxa, a criança pode experimentar, com segurança, a tensão e o medo. Quando brincam de lutas, elas devem saber que aqueles movimentos fingem uma luta, não causando machucados nos outros, e desta forma diferenciar o real do imaginário. Ao observarmos situações de brincadeiras coletivas, ficaremos impressionados com o investimento dos pequenos no planejamento, organização, negociação de papeis, regas, ações, significados e conflitos. Já nos jogos de faz de conta, é interessante observar a maneira como as crianças imitam os jeitos das personagens, no andar, no falar, na entonação, nos gestos.

O plano informal das brincadeiras possibilita a construção e a ampliação de competências e conhecimentos nos planos de cognição e das interações sociais, que certamente tem conseqüências na aquisição de conhecimentos no plano da aprendizagem formal.

Após essas reflexões, podemos afirmar que, para as crianças, o brincar é um espaço de apropriação e constituição de conhecimentos e habilidades no âmbito da linguagem, da cognição, dos valores e da sociedade. E que esses conhecimentos se tecem nas narrativas do dia-a-dia, constituindo os sujeitos e a base para muitas aprendizagens futuras.


BORBA, Ângela Meyer. (2007). O brincar como um modo de ser e estar no mundo – In: Ensino Fundamental de Nove Anos – Orientações para a inclusão de crianças de seis anos. Brasília: MEC
GOUVEA, Maria Cristina Soares de. (2007). A criança e a linguagem: Entre palavras e coisas. In: PAIVA, Aparecida (org) Literatura: saberes em movimento. Belo Horizonte: Autêntica.

Um comentário:

  1. Olá meninas
    Gostaria da visita de vocês no blog da EMEI Ambaí.

    htt://emeiambai.blogspot.com

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